22.4.08

Vou te encontrar, vestida de cetim...

Hoje acordei com o barulho que a Petroquímica fez logo pela manhã. Era cedo, 8hs. Pô, só entro pra trabalhar às 13h. Bom, enfim. Depois de ouvir o barulho não consegui mais dormir por causa de uma reforma que ocorre aqui bem do lado de casa, mas fiquei deitada pensando na vida. Quero dizer, na morte. É que o barulho me fez lembrar de quando eu era criança e acreditava mesmo que um dia ia morrer por conta de alguma provável explosão na mesma Petroquímica.

Não sei porque, mas ao longo da minha vida, sempre pensei em como vou morrer, acho que é de família, meu pai vive dizendo 'desse inverno eu não passo'. Já tem 28 anos que ouço ele dizer isso.

Bom, quando eu era criança, achava que seria por causa de uma explosão que jogaria Santo André inteira pelos ares. Mais tarde, lá pelos 10 anos, andei doente. Aí pensei que com essa saúde bichada não poderia mesmo chegar a ser adulta. Mas sarei. Quero dizer, o corpo sarou, a mente continuou na mesma.

Então chegou a adolescência, e aí já tudo mudou. Que doença, que Petroquímica que nada. Ia morrer de tanto beber mesmo. Mas eu também tinha um pouco de medo dos amigos que dirigiam, então achava provável também morrer em acidente de carro, ou com os amigos, ou nas inúmeras caronas desconhecidas que nós pegávamos, olha só que insanidade. Se minha mãe soubesse disso, ela mesma me mataria.

Mas virei adulta e fui dar aula. Aí, logo no primeiro ano que estava trabalhando, uma professora aqui nos arredores foi baleada na sala enquanto escrevia na lousa. Pronto, podia continuar bebendo, já tinha arrumado outro obituário. Tive um aluno naquele ano que ia pra escola armado, foi ótimo, aprendi a ditar a lição, não virava de costas pro cara de jeito nenhum. Essa desconfiança ainda me persegue, ainda acho que pode ser que eu morra na aula ou em virtude dela. Após seis anos, a voz já não é mais a mesma, e a sanidade mental também não. Hoje sou bem mais paciente, mas ainda não evito confrontos. Se preciso, sou muito macho na sala de aula, não tenho medo. Talvez devesse ter, mas não tenho. Ah, sim, ainda tem as manifestações do sindicato, mas duvido que um dia aconteça algo por lá. Aquilo, de tão ridículo, não incomoda nem a população mais.

Ah, claro, comecei a dirigir recentemente. Quem anda comigo sabe que o acidente de carro ainda é possível também.

Hoje não tenho mais medo da Petroquímica explodir, mas confesso que o barulho me deixou preocupada.

"Estou aqui de passagem
Sei que adiante um dia vou morrer
De susto, de bala ou vício
de susto, de bala ou vício"

Soy loco por ti, América, Caetano Veloso

*****

Puuuutzzzzz! O texto já estava terminado e publicado, quando começo a receber ligações. Gente perguntando "você sentiu a terra tremer aí?" Eu heim. Eu não senti, mas várias pessoas menos desligadas que eu sentiram. Mais um possível e novíssimo óbito: soterramento.

6 comentários:

Edu Guimarães disse...

porra... perdi meu primeiro terremoto... 5,2 ma escala Richter e eu não senti nada...

Tudo bem aí? :-D
More não, beijão :-*

Mila disse...

Cheguei da faculdade, uma das primeiras coisas que minha mãe disse:
"Sabia que SP tremeu? Tipo um terremoto."
rsrs
Aqui no fim do mundo não teve nada, então vou ver com a minha irmã se ela viu quadros balançando na parede.
Que emoção! Parece coisa de filme que fala do mundo.
hahaha
***
Eu nunca "idealizei" minha morte, mas acho que eu vou morrer velha. Sou calma demais pra morrer do coração, arrumar confusão e alguém querer me matar ou coisa do tipo.
Não moro perto de nada perigoso, então...
Uma vez eu bebi tanto que acharam que eu tinha morrido, mas aí é outra história... rsrs

Beijos

Anônimo disse...

Sabe que eu nem percebi o tremor?
Mas me preocupa um pouco, já que é novidade em SP.

Marta Diogo disse...

A situação na escola foi cômica. Alguns professores desceram espantados para o intervalo, e antes disso, a dona Sandra recebeu uma ligação do marido, dizendo que a estante e o sofá da sala estavam balançando. Eu presenciei essa cena e ouvi bem quando ela perguntou: "Quantas você já tomou?"

Mas a gente vai morrer mesmo, é fato. Estou longe da Petroquímica, mas aquele fogaréu dá para ver da casa de meus pais e também me assustava. Eu achava que aquilo era o inferno, quando criança e não mudei de opinião.

leticia sayuri * disse...

aiaiai... devido a sumida que dei, só vi hoje o meme que você deixou pra eu responder... já estou providenciando, viu?

*

que coisa. ser professora não é fácil, né? imagine, ter um menor delinquente levando arma pra sala de aula!


bjo*

Juliana Poggi disse...

oi de novo!
Achei que eu era a única pessoa que achava que ia morrer por causa da petroquimica! kkk
ficava até imaginando as noticias por todo o Brasil e a minha avó que mora no interior chorando a minha morte! kkk
mais o mais engraçado é que eu passei por todas as mesmas fases que vc , a doença , acidente de carro!
Mais o meu mais recente é acidente de ônibus! kk
bjus té mais!