28.9.09

Dos interesses

Era uma vez uma menina que não via maldade em ninguém. Nos tempos mais remotos já ajudava os colegas da sala de aula com os deveres, trabalhos e contas. O tempo passou e ela sempre acumulou elogios à sua prestatividade, sua prontidão. Era capaz de ouvir durante horas uma amiga chorando, perder um domingo de sol pra ajudar nos deveres da escola, acordar cedo num sábado só pra acompanhar alguém numa missão.

O tempo passou mais um pouco e chegou a maturidade. Um dia percebeu que seus problemas, quase todos, sempre ficaram em segundo plano. Um dia ouviu falar que qualquer relacionamento só acontece na base da troca e a partir daí começou a analisar tudo o que recebeu e tudo o que compartilhou. Percebeu que as maiores frustrações ao longo da vida, até então, foram decorrentes de falta de atenção, pouco caso, falta de compromisso das pessoas que ela considerava mais próximas.

Notou que o problema dos outros sempre foi maior, os dela sempre foram quase nada, segundo plano. Notou o número de telefonemas e recados recebidos com os dizeres 'preciso de um favor seu', comparou esse número com o tanto de vezes que pediu algo pra alguém e foi atendida.

Percebeu ainda o quão disponível sempre se colocou a todos que precisassem, e comparou com o tanto de disponibilidade que sempre encontrou ao seu redor. Percebeu ainda o quão traída nessa disponibilidade ela já foi. Quantas vezes deixada pra trás, falando sozinha, pedindo pra ajudar.

Naquele dia percebeu que teve pouquíssimos amigos durante a vida. Boa parte desses amigos, alguns ainda presentes, sempre estiveram interessados na ajuda, na disponibilidade. Quando ela não existe, desaparecem. Naquele dia ela desejou como nunca o egoísmo. O desejo passou rápido, ela nunca foi egoísta e ao menos disso pode se orgulhar.

Os amigos? Passou a analisar antes o que cada um quer dela. Deseja apenas os que a procurem por nada, de graça, assim como ela procura as pessoas. Tornou-se uma pessoa mais sozinha, mas ainda insiste em acreditar nas pessoas. De graça.

14.9.09

A dor e a delícia da inclusão digital

Ontem assistindo a um video do Deep Purple de 10 anos atrás e conversando sobre o mesmo show, senti uma ponta de nostalgia. O ano era 1999, o video em questão era In Concert With the London Symphony Orchestra, e o mesmo show aconteceu em São Paulo, no Via Funchal, mas eu não estava lá. Quem esteve conta histórias incríveis, como por exemplo, o público pedindo pra ouvir rock enquanto a Orquestra Sinfônica de São Paulo tocava. Outro ponto alto deve te sido todo mundo saindo do lugar e correndo para perto do palco quando Dio entrou. A cara de inveja do Gillan também deve ter sido algo memorável.

Esse é um dos inúmeros shows que só sabemos o que os presentes contam, ninguém tinha câmeras fotográficas digitais que cabem no bolso da calça, nem celulares que filmam, nem filmadoras ultra compactas, nada. Para entrar com uma câmera num show era necessário saber onde escondê-la. Opções não faltavam, mas faltava coragem pra enfiar uma câmera no pacote de pão de forma, ou dentro de um panetone sem o recheio, ou abrir um pacote de salgadinho e vedar de novo... não era fácil, só valia a pena se a câmera fosse boa mesmo e se você fosse ficar lá na frente.

Hoje todo mundo tem um celular que tira fotos razoáveis. As câmeras digitais que fotografam e filmam com qualidade aceitável são tão pequenas e fininhas quanto uma carteira, e não precisam ser escondidas. Quando começa o show, pra quem assiste do fundo da platéia, o número de visores acesos é um espetáculo a parte. No dia seguinte é possível assistir ao show inteiro pelo youtube e ainda salvar fotos da apresentação.

Mas não acho ruim isso tudo, pelo contrário, acho o máximo poder rever alguns detalhes perdidos durante o show, ou até ver como foi em outros países, em outros estados. O que me intriga mesmo são aquelas pessoas que durante o show inteiro ficam tirando fotos delas mesmas, de costas para o palco. Já cansei de ver grupos inteiros de amigos que durante o show conversam, riem, fotografam, mas tudo entre eles, como se a banda fosse apenas um acaso. Não contentes, essas pessoas costumam atrapalhar quem está ali pra ver o show, pois tentam falar num volume mais alto do que a banda, sem falar nos malditos flashes na nossa cara. Eu não vi, mas sei de fonte segura que num show tinha um cara filmando ele mesmo cantando, de olhos fechados, como se fosse ele o rock star.

Muita coisa mudou em apenas 10 anos. Pra melhor e pra pior.

9.9.09

Top Five "Gosto mas tenho vergonha" - Categoria Música

Sabe aquela música que você fica off line no msn pra ouvir? Ou aquela que quando começa a tocar no rádio, você olha dos lados pra se certificar de que não tem ninguém te vendo cantar? Pois é, todo mundo gosta de alguma coisa que tem vergonha de gostar. Lá vai meu Top Five de músicas que difamam meu bom gosto.

NACIONAL
05 - Sidney Magal - Tenho (Tenho um mundo de sensações! Agora já é até cult)
04 - Blitz - A dois passos do paraíso (Puta breguisse aquela hora que o Evandro Mesquita fala como se fosse um radialista, mandando a música pra uma ouvinte, nossa, que vergonha)
03 - Lulu Santos - Várias, várias, várias (O cara é um arrogante, prepotente, só por isso não merecia que eu gastasse minha saliva cantando seus versos pobres e pops... mas eu não presto, gosto)
02 - RPM - Olhar 43 (Não dá pra resistir, Louras Geladas também é demais. Mas é brega pra caramba)
01 - Absynto - Ursinho Blau Blau (Pô, cresci ouvindo, não resisto)

INTERNACIONAL
05 - A-Ha - Crying in the rain ou Take on me (Anos 80 na veia)
04 - Bon Jovi - I'll be there for you (Hoje em dia já não tenho mais tanta vergonha, mas na adolescência tinha que ouvir escondida)
03 - Trio - Da da da (Que p*** era essa, afinal?)
02 - Linear - Sending all my love (Lembra dos cabelos desses caras?)
01 - Bangles - Eternal Flame (Essa é pra cantar gritando dentro do carro, com os vidros fechados, claro)

Isso tudo só me ocorreu porque a última, Eternal Flame, realmente tocou hoje no rádio, eu estava no carro, voltando pra casa. É tão brega que me dá vergonha do espelho. Mas cantei, feliz:

Close your eyes, give me your hand, darling,
Do you feel my heart beating?
Do you understand?
Do you feel the same?
Am I only dreaming?
Is this burning an eternal flame?

De arrepiar, heim?

1.9.09

Ibira e sua fauna

Domingo eu e o jornalista (faz tempo que não o chamo assim, rss) fomo ao Parque do Ibirapuera. Eu sei, eu sei, Ibira é muito clichê, todo mundo vai lá, todo dia, super cartão-postal, tá, eu sei. Mas adoro ir lá pra não fazer nada, só andar um pouco, sair daqui. Mas bonito mesmo é analisar a fauna que ali se encontra.

Não tô falando dos vários bichos estranhos que circulam por ali, como os que nadam, os que voam, os que correm da gente, nem dos que correm até a gente na ponta de uma coleira. Tô falando daquela fauna que circula por lá, andando mesmo. Essa fauna divide-se entre os emos, os homos e os pasmos.

Entre as duas primeiras classes os atos mais praticados são em geral correr, borboletear, gritar, agarrar, beijar, e alisar o cabelo já meio ensebado pra um único lado, todo o cabelo. Vestem-se e agem de tal forma que impossibilita a definição do sexo em grande parte dos casos.

O cabelo merece um tópico especial. Em geral não são alinhados, premia-se aqueles que conseguem achar naquela cabeleira dois únicos fios do mesmo tamanho. Difícil também é achar um que não de nojo de chegar perto, parece que cheira mal mesmo. Embora sejam totalmente desalinhados em uma cabeça, são idênticos quando analisados em várias cabeças, todas próximas. Lembra aqueles 'cabelinhos' que tinha no playmobil, que só mudava a cor: amarelo, marrom, preto, branco. Ah não, branco não tem, mas tem verde, azul, rosa, etc. É uma fauna bem diversificada e colorida.

As roupas também são bem estranhas às vezes. Nem sempre, mas é muito comum vê-los com roupas de oncinha, zebrinha, tudo muito justo, provavelmente pra aumentar a cara de sofrimento. Beijam-se, agarram-se e fotografam-se desesperadamente.

Os pasmos, bem, os pasmos apenas observam o que não dá pra não observar e escutam comentários que os fazem pensar na maravilha que seria se a audição fosse voluntária, como a visão. Mas os pasmos emocionam-se mesmo quando, por acidente, acabam deixando o carro num lado do parque habitado apenas por um dos grupos, os homos. Mas os pasmos também brincam, correm, beijam, conversam, riem, tudo em menor grau do que os outros, com bem menos alarde. Mas deve ter um monte de pasmos por lá, loucos pra migrarem pros outros grupos.

Eu? Apenas observo, pasma.