24.6.08

Ana

Eu nunca fui uma menina popular, nem na escola, nem no bairro. Mas ela era popular. Todos a achavam linda, engraçada, gostosa. Não tinha notas boas não, mas isso também era coisa de para os cdfs, tipo eu. Todos queriam ser da sua turma, a turma mais divertida da escola. A turma que matava aula, a que fumava na frente da escola, que já todo mundo já tinha beijado alguém. Algumas meninas da turma já tinham até passado um poquinho dos beijos de língua na saída da escola.

Ela tinha a pele clarinha, cabelos pretos, lisos, olhos verdes e grandes. Não era magra, tinha o corpo com formas adultas já. Na escola, os meninos babavam por ela, mas ela não queria saber de nenhum: podia se dar ao luxo de gostar de um cara mais velho do que a gente, ele já devia ter uns 18, 19 anos. Nós, no máximo 13.

Depois da oitava série, cada uma seguiu o seu caminho, sempre vivendo no mesmo bairro, mas por algum motivo, não nos encontramos mais com freqüência. Conquistei minha própria turma, mas nunca fui popular como ela. Das vezes que a encontrava no ônibus, no mercado, na padaria, conversávamos futilidades, nada mais. Os encontros ficaram cada vez mais escassos, e assim passaram-se anos sem que soubesse do seu paradeiro. Hoje abri a janela e a vi passando.

- Psiu!

Estava com uma criança com mais ou menos 6 anos. Seu filho. Nem de longe se parecia com aquele cara de quem ela gostou por anos e anos. Ela também não se parece mais com aquela garota da escola. Com uma feição cansada, seus olhos verdes não são mais chamativos, parecem que perderam o brilho. Andava aparentemente curvada, talvez pelo frio que fazia pela manhã, ou pelo costume de andar atrás do filho, ou por desleixo. Suas roupas não combinam entre si, moleton, blusa de soft, toca, cada coisa de uma cor. Ela se vestia bem. Sua voz é triste. Digo que a cena foi triste, imagem e som.

Como é que uma pessoa cheia de vida chega a perdê-la assim, desse jeito? Será que ela era cheia de vida? Ou será que ela é cheia de vida hoje? Acho que não. Tive a impressão, por alguns instantes de que ela virou adulta, preocupando-se com filho, casa, cozinha, roupas pra lavar, e eu continuei adolescente, trabalhando praticamente só pra mim, preocupada em não ficar no sofá na noite do sábado. Como foi que nos tornamos pessoas tão diferentes?

Após 10, 15 minutos de conversa, cada uma seguiu a sua vida, com a certeza de que não voltarão a se encontrar tão cedo.

- Mas quem sabe você ainda não dá aula pro meu filho?

3 comentários:

Juliana Poggi disse...

esses encontros ao acaso com pessoas do passado não muito distante parecem surreais, como se a gente pudesse sentir o gosto de um futuro que não foi nosso! mais que poderia ter sido! e como sempre depois de uma dessas a gente chega em casa pensando na vida!bjus té mais!

Mila disse...

Isso de seguir caminhos diferentes sempre me faz pensar.
Tenho primas da mesma idade que eu e, enquanto eu tô feliz, namorando, fazendo faculdade, saindo pra balada, bebendo depois das aulas (e antes e durante de vez em quando), sossegada aos finais de semanas; elas estão balançando o filho, limpando a casa, cuidando da roupa dos maridos...
Tenho dó quando percebo o olhar de "pôxa, eu ainda poderia ter essa vida que a Mila tem", mas ao mesmo tempo eu não tenho, pq ninguém é boba hoje em dia. Arruma casamento e filho antes da hora pq é relaxada ou pq quis assim.
Prefiro viver minha vida assim, tudo na hora certa, sem pressa pra nada.
E essa moça deve ter te olhado e pensado o mesmo que minhas primas pensam quando olham pra mim. Mas, fazer o quê?!

Beijos

Morena disse...

Ai ai ai... adoro a minha vida. Seja revolucionária o quanto for. Amo mesmo.