Segundo dia de trabalho efetivo. Seis anos atrás, percebeu que havia descoberto o que queria fazer pelo resto da vida, lecionar. Mas até os trabalhos mais maravilhosos apresentam dificuldades, ainda que esporadicamente, mas aprensentam. E o magistério não é o trabalho mais maravilhoso do mundo, na verdade é um sacerdócio. É necessário se entregar de corpo e alma e de vontade própria. Caso contrário, adoecerá nos primeiros meses.
E hoje havia sido um dia difícil. Um dia não, na verdade, os últimos 50 minutos foram difíceis. Suficientemente pra manchar os feitos das últimas aulas, que foram bem prazerozas. Sexta aula. 35 alunos impacientes, querendo ir ao banheiro, ir beber água, ir embora, não assistir aula. Pudera, pensou: "eu, sentada nessa carteira desde às 13h, com esse calor, também estaria impaciente". E ela já estava impaciente. 10 minutos pro final, passou a pergunta para ser respondida na aula seguinte. Enfim, tchau professora.
Com a sala vazia, empilhou os materiais nos respectivos montes, arrumou uma ou outra carteira fora do lugar e juntou suas coisas. Lembrou que não tem armário ainda. Escola nova, não conhece ninguém, fala com quase ninguém e tem quase nada. Já sem a necessária paciência guardou todo o material em sua bolsa e foi embora. No portão notou que estava de avental. Não tirou, foi direto pro carro, que estava na rua, afinal, nem o controle do estacionamento ela tem ainda. Paciencia.
Liga o carro, liga o som. Beatles não agrada, troca pro rádio. Qualquer coisa. Trânsito das 18h30m. Tchau professora, gritam da avenida, o carro em movimento lento demais pro seu gosto.
Rua Oratório, sinal fechado. Por um instante, percebe a lua já visível, linda. Ainda é dia, e ela já está lá, cheia, maravilhosa. Lua cheia. Noites de lua cheia são as mais difíceis de se ficar em casa, essas noites enluaradas a excitam. No rádio, uma das vozes que embalaram sua infância e adolescência. Por um momento lembrou das coisas e das pessoas que gosta, e de quem é, quando tira aquele avental com cheiro de giz. O semáforo abriu.
Chegou em casa mais leve, feliz.
Espero que o tempo passe
Espero que a semana acabe
Pra que eu possa te ver de novo
Espero que o tempo voe
Para que você retorne
Pra que eu possa te abraçar
E te beijar
De novo
N, Nando Reis
20.2.08
O Semáforo
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dias difíceis
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