25.2.08

45 (último ato)

Sexta-feira. Trabalhava na parte da tarde, tomava um banho e saía correndo rumo à outra escola. Seria exibido naquela noite o último capítulo da novela das oito, evasão escolar garantida. Provavelmente ela sairia mais cedo e encontraria suas amigas, vestiu-se mais à vontade, de vestido. Fazia um calor dos infernos.

As expectativas se confirmaram, poucos alunos na escola. Provavelmente ele não estaria por lá também. Ela subiu pra sala, encontrou pouco mais de meia dúzia esperando sua aula, mas ele estava lá.

Quarenta e cinco minutos depois bate o sinal, intervalo. Todos saem da sala, menos um, ele. Ela recolhe os materiais com a mão já suando, gelada. Só queria não querer, só pensava em não pensar. Caminhou até a porta, onde ele a esperava.

Pensamentos mil: não faça; faça; aproveite; fuja; corra, fique; encoste a porta; vá embora.

Ele fechou a porta, veio ao seu encontro.

- Professora, eu não estou brincando, você está me deixando louco.

- Você também está me deixando louca.

Beijaram-se. Os pensamentos na cabeça dela agora pareciam ferver, correr. Uma loucura, não conseguia mais pensar em nada, sentia as mãos, o cheiro, a pele, seu corpo de encontro ao dele, os sons que daquele beijo proibido. Deixou-se levar, completamente dominada por aquele rapaz. Sempre foi louca por homens dominadores, que não dão oportunidade de resistência, mas isso nunca tinha ido além dos seus sonhos secretos.

Ficaram ainda uma meia hora ali, sem falar quase nada, seguindo apenas suas vontades. A escola estava já vazia, os poucos presentes foram embora. Também não poderiam continuar ali. Fizeram o trato de jamais contar a ninguém, arrumaram-se e ele foi embora antes dela. Ela desceu as escadas ainda sem ouvir som nenhum, chocada com o que acabara de acontecer. Sentia suas pernas tremerem.

- Professora, me espere!

Susto. Uma colega chamando, tinha ficado um tempo na sala de aula corrigindo provas. No mesmo andar. Teria visto algo? Escutado algo? Teriam eles feito barulho? Ela não conseguia pensar mais, nem lembrar.

Nas semana que se seguiu voltaram a se encontrar, não na escola. Ela tinha quase todas as noites livres. Ele ainda faltou dois dias, só pra encontrá-la. Até o dia em que ele sugeriu algo mais sério. Entendia que na escola não poderiam se encontrar, mas queria uma coisa séria.

A professora não aceitou, mas foi ver seu prontuário na secretaria. Número 45 da oitava, suplência, por favor. Nome completo, filiação, endereço, nascido em 1989. 18 anos. Não era possível. Não estava apaixonada, mas foi um outro choque. Como pode sentir tamanha atração por alguém 10 anos mais jovem? E ele, o que viu numa professora, por que ela e não as meninas da idade dele?

Viram-se ainda uma vez fora da escola, e nunca mais se encontraram. Nunca ninguém soube de nada, exceto amigos muito íntimos dela, e dele, provavelmente. Ela ainda se pergunta o que ele teria visto nela.

2 comentários:

Edu Guimarães disse...

Putz,
eu nunca tive uma professora assim, pra dar essas aulas.

Jaded disse...

vc já viu o filme Notas sobre um escandalo, com a Cate Blanchet? Esse seu texto me lembrou esse filme!