21.2.08

45

Era já o final da aula quando aquele aluno a pediu, em particular, um conselho. Perguntou-lhe sobre teste vocacional, afinal, já estava na oitava série, no curso supletivo, em um ano e meio prestaria vestibular. Na mesma noite ela chegou em casa e foi pesquisar. Aquele rapaz chamava sua atenção. Ela, que nunca foi boa em guardar nomes, sabia muito mais do que seu número da chamada, o 45. Sentava-se na frente da sua mesa, quando tirava dúvidas sobre a aula, olhava-a nos olhos. Chegava a intimidá-la.

Na noite seguinte a professora entregou o bilhete com telefones de locais onde ele poderia realizar o tal teste.

- Professora, sei que está solteira, não quer ir ao cinema comigo hoje?

Ela sentiu como se o chão estivesse tremendo. Suas mãos ficaram geladas, e a voz demorou para sair. Balançou a cabeça, não. Olhou novamente em seus olhos.

- Você é meu aluno, não confunda as coisas.

Seu casamento havia terminado recentemente, não pensava na possibilidade de que alguém poderia convidá-la, sem mais nem menos, para ir ao cinema. Um aluno! Logo depois contou para as pessoas mais próximas e ouviu atentamente todo tipo de palpites:

- Ele é seu aluno, nem pense numa coisa dessas!

- Ele é adulto, você também, são livres. Fora da escola, não existe impedimento.

- Cuidado, você pode perder o controle da situação...

- Que legal! Ele é uma graça, não há problema algum!

A cada palpite ela ficava mais confusa. Resolveu esquecer aquele assunto, só o veria na semana seguinte, até lá já teria esquecido o susto. Mas passou os dias seguintes chocada com a proposta, tentada, e com vergonha de tudo o que estava sentindo.


(continua)

Um comentário:

disse...

Ah, a ética profissional... chata, não? Estou ansiosa pela continuação. :)

Obrigadíssima pela visita gentil, moça. Mesmo.

Bjs.