29.3.08

Quase Édipo

Reparou na inocência
Cruel das criancinhas
Com seus comentários desconcertantes?
Adivinham tudo
E sabem que a vida é bela
(Só as mães são felizes, Cazuza e R. Frejat)

Era um dia comum. Na última aula, a professora foi dispensando os alunos que já haviam terminado a atividade. No final ficou apenas um, um dos mais inteligentes e articulados da sala. Ela estranhou, e foi ver o que estava acontecendo. Ele já havia terminado, estava fazendo pequenas correções.

- Professora, desculpe te fazer esperar, já estou terminando.
- Não tem problema, espero o tempo que for preciso.
- A senhora é casada?
- Não.
- Namora? Mora sozinha?
- Não, e moro com meus pais, assim como você.
- Por que a senhora não namora?
- Por que não, que pergunta... terminou?
- Se eu fosse dez anos mais velho, ia querer namorar com a senhora.
- Querido, se você tivesse dez anos a mais, teria 21 anos, ainda seria mais velha que você, e de onde você tirou essa idéia? Some daqui que a van tá te esperando!
- Quando eu tiver 20 anos, com quantos anos a senhora estará?
- Velha. Tchau.

E ele se foi. Ela juntou as coisas, pegou a bolsa no armário e foi para o carro. Durante os dez minutos que leva da escola pra casa foi pensando.

- Quantas vezes ainda terei que passar por isso? Onde é que estou errando na minha aula? O problema sou eu?

9 comentários:

disse...

Ah, errando nada! É normalíssimo... os professores são alvo de interesse dos alunos, sempre. Eu ministrei uma oficina em duas cidades do interior certa vez. E nas duas rolaram a mesma pergunta, mas a diferença é que a minha turma era composta por adultos e só adultos. rs.

Foi logo no primeiro dia de aula. Me apresentei, falei da minha formação, me identifiquei, falei da instituição pela qual eu estava ministrando a oficina... e a primeira mão levantada foi de um aluno: - Professora, a senhora tem namorado?
Eu: - Tudo o que vocês precisam saber sobre mim eu disse na minha apresentação, queridos. O resto é só o resto.

E pisquei pro aluno, pra não ficar parecendo bronca, foi só um corte mesmo. rs.

É normal, Bel. Sempre vai acontecer, mas não te incomoda com isso não.

Mila disse...

Gostei da resposta final: "Velha. Tchau."
rsrs

Acho que a maioria dos alunos acaba gostando mais das professoras novinhas. Mesmo que as velhas sejam legais, as mais novas acabam ganhando na preferência do público. rs

Beijos

Mike disse...

É, a relação aluno/professor continua rodeada de fetiche... a questão do guia, de quem tem um tanto mais de sabedoria (acadêmica) e pode te levar pela mão.
Bel, provavelmente não foi a primeira nem será a última vez q isso acontecerá... além do mais, vc parece bem bonita e descolada (o que deve soar ainda mais atraente para alunos acostumados com aquela visão antiga de professora amarga e castradora).

Morena disse...

É isso mesmo, Bel. Já me perguntaram a mesma coisa e quando disse que não tinha namorado responderam: "Ah, bom pra gente!" Ignorei. Fingi que não ouvi e continuei. Está dando certo até o momento, mas se tiver que cortar, corte. O fato de ser nova e ser "legal" sempre vai dar essa conotação aos alunos.
Não é erro... é consciencia!
beijo!

Marcio Brigo disse...

Eu acho que a nova geração ainda não está pronta lidar com a nossa. Somos geração Analogiaco-Digital, acho que eles (os digitais) estão cada vez mais acostumados com o que eu quero eu consigo, algo que em nossa época não era verdade.

Bel, estou feliz que esse projeto continua andando, e bem!
Beijos deste seu amigo que só lhe deseja sucesso.

fjunior disse...

a professora é o nosso primeiro contato com o mundo adulto fora de casa... talvez seja daí...

Mila disse...

Acho que meu susto com a molecada endiabrada foi pq, quando eu tinha a idade deles, eu respeitava os mais velhos. Hoje em dia é diferente.
Mas vou ter que me adaptar.
Pelo menos por um tempo, o giz será meu companheiro de trabalho, então... rs

Anônimo disse...

Concordo com o F.S.Jr., e ainda complemento, não só pelo primeiro contato, mas também pela quantidade de tempo que se passa junto. Isso sem contar com aquele fator "professor ouvinte dos problemas".
Apenas não pense, "o problema sou eu". Simplesmente acontece...

Paula disse...

definitivamente bel, acostume-se! em qquer profissão sempre haverá paixonites agudas. sabe por que?

porque brilhamos quando fazemos o que gostamos e, daí somos destaque, surge interesse da platéia.

sem idade, sem stresse, acostume-se.

do mais, vc mostrou imensa "habilidade" em impor respeito na sua estruturada e frase: velha, tchau..... rsssss.

inté +.