5.3.08

No café (meses antes)

Ele ainda estava chegando quando a viu, colocando sua mala no ônibus. Aquele rosto não era estranho, de onde a conhecia? Não foram em acentos próximos, mas podia ouvir a voz dela quase o tempo todo, e sua gargalhada. Que professora extrovertida, pensou ele.

Chegaram no Hotel onde já preparavam o início do Congresso. "Minha chance, sento perto dela, puxo assunto". Ela sentou com as amigas, que não eram poucas. Ele preferiu ficar longe, só olhando. Ela era tratada de forma diferente pelas colegas, era a mais nova delas, muito mais nova, tornava-a quase uma mascote da turma. Ela andava por toda a plenária, acompanhada ou não, falava com gente de toda parte do estado.

Várias vezes notou ser observado por ela também. Conversando, lendo ou apenas ouvindo as falas da mesa, ela desviava o olhar, procurava por ele. Olhava, via que ele retribuía, desviava o olhar. Depois de quase oito horas nessa troca de olhares, encorajou-se e foi falar com ela.

- Você tem algum remédio pra dor no corpo?

- Sim, tenho, mas tá na mala. Em que chalé você está? Eu levo lá.

Ela levou o remédio, já era quase 2h da manhã. Ele ficou surpreso, era a chance! Mas ela não puxava assunto, foi com as amigas. Desviava o olhar quando a encarava. Ofereceu uma cerveja, ela aceitou. Cigarro? Não, ela não fuma.

Dois dias se passaram no mesmo ritmo. Olhares, café, cigarro. Ela gostava de café, tomava o tempo todo. Na última noite, o sindicato promoveu um baile de confraternização. Última chance. Passou no seu chalé com os amigos, ela estava lá, terminando de se arrumar, linda. Não disse uma palavra diretamente a ele, mas tomou do vinho que trouxe.

No baile bebeu pra criar coragem de falar com ela. Não lembra como voltou pro chalé, mas um amigo veio com a novidade, sorridente, quase gargalhando, meses atrás:

- Já sei o que aconteceu naquela noite, foi aquela professora que te levou e te colocou na cama, depois de dar banho, claro.

- Mentira. Como você sabe?

- É, é mentira, mas ela disse isso só pra você procurá-la e dessa vez terem do que falar.

Pra ler ouvindo Qualquer Bobagem, dos Mutantes.

Um comentário:

Mila disse...

Fiquei curiosa... Será que ele a procurou depois?