26.3.08

Não sou eu hoje

Hoje não vou escrever aqui. Quem vai escrever por mim, quem fala por mim hoje é Carlos Drummond de Andrade. Acabei de ler esse poema, não tem como não publicá-lo. Caro Drummond, somos íntimos, perdoe-me se te uso às vezes. Esse poema foi publicado no livro Sentimento do Mundo, de 1940. Acabou de ser lançado na coleção da Folha.

POEMA DA NECESSIDADE

É preciso casar João,
é preciso suportar Antônio,
é preciso odiar Melquíades,
é preciso substituir todos nós.

É preciso salvar o país,
é preciso crer em Deus,
é preciso pagar as dívidas,
é preciso comprar um rádio,
é preciso esquecer fulana.

É preciso estudar volapuque,
é preciso estar sempre bêbado,
é preciso ler Baudelaire,
é preciso colher as flores
de que rezam velhos autores.


É preciso viver com os homens,
é preciso não assassiná-los,
é preciso ter mãos pálidas,
e anunciar o FIM DO MUNDO

6 comentários:

leticia sayuri * disse...

muito bom mesmo.

a primeira estrofe fez-me lembrar daquele clipe do paralamas do sucesso, ´ela disse adeus´.

É preciso viver com os homens,
é preciso não assassiná-los
... tarefa árdua, não é?


bjo*

Anônimo disse...

Drummond é sempre fantástico e indescritível.

Gostei daqui, volto mais vezes.
Uma boa tarde.

Alec

Anna Flávia disse...

Muito bom.
É preciso ler Drummond!

Beijo

fjunior disse...

perfeito.

Mila disse...

Drummond é sempre Drummond.
E ele já, sabiamente, anunciava o fim do mundo naqueles tempos.
Parece que ninguém deu muita atenção e ele continua acabando...
***
Menina! Às vezes eu me incomodo com a minha mania de coisas inúteis. Penso que, se não fosse por tanta inutilidade, eu poderia estar lendo um bom livro, estudando para uma prova... Sei lá. rs
Mas eu logo me 'desincomodo' e volto para as minhas bobeiras. hahaha

Beijo

Mike disse...

Grande Bel, excelente escolha de substituição.
Por vezes, é interessante recorrer aos clássicos.

Diz aí, o q é "volapuque"?

Grande abraço e bom domingo