2.3.09

Eu e o acordo ortográfico

Eu lembro quando ninguém tinha telefone celular. Durante a minha infância, nem telefone fixo nós tínhamos. O telefone em casa foi instalado por volta de 1998, depois do último plano de expansão (!!!), quando os preços das linhas cairam vertiginosamente. Telefone celular eu comprei quando trabalhava e estudava o dia todo, mas já tava no final da faculdade, lá pra 2000, 2001.

Pesquisa escolar era feita na biblioteca. E era emocionante, afinal, era uma desculpa para ir ao centro da cidade sozinha, sem os pais. Na biblioteca tinha o pessoal muuuuuito mais velho, do colégio. Aí a bibliotecária entregava o livro com o tema que pedíamos (como ela sabia onde tinha tudo?) e íamos lá, copiar tudo, palavra por palavra, e com lápis, não podia usar caneta lá. Um dia descobrimos que havia uma máquina de xérox no andar de cima, mas tinha que subir escondido, com o livro mais escondido ainda. Aí veio a tar da interrrrnete e acabou com os problemas dos estudantes. A maioria nem sabe mais pra que servem aquelas mesas nas bibliotecas públicas.

Lembra do Correio? Ele ainda existe, mas hoje se ocupa de entregar aquelas correspondências indesejáveis, todos sabem quais são. Mas teve um tempo em que eu mandava cartas, pra várias pessoas. Pegava uma folha de caderno, escrevia, escrevia, escrevia, desenhava, dobrava, colocava num envelope, desenhava no envelope também, ia até o correio, colava o selo e lá ia minha cartinha. Uma semana depois a minha resposta estaria no portão. Mais uma vez, a marvada interrrnete veio e acabou com o barato. Não reclamo dos e-mails, mas pelo menos não recebíamos cartas com orações, pedidos de ajuda, casos mirabolantes da noite de são Paulo, nada disso.

Sim, o computador, esse mesmo, na sua frente. A primeira vez que usei isso foi no primeiro ano da faculdade, em 1998. Mas mantive a minha máquina de escrever por um bom tempo. Na faculdade tinha um monte de laboratórios (na verdade só 3), todos com acesso à net, um luxo. Não demorou pra eu viciar naquilo e matar aula pra ficar no bate-papo do uol. Logo consegui comprar o meu.

Música também mudou um pouquinho... lembro da época em que começaram a vender os tais cds. O primeiro cd que eu comprei eu nem tinha o aparelho pra tocar ainda. Lembro de ter comprado alguns discos novos, na loja. É, disco de vinil. Comprei muitos usados também. Hoje acabo não comprando nada, baixo tudo o que eu quero. Era uma briga pra achar 'aquele' disco. Hoje você entra na comunidade Discografias, no orkut, e tem tudo lá, tudo mesmo.

Será que já não vivi inovações demais não? Ainda vou ter que presenciar o novo acordo ortográfico mesmo? Me deparei com isso hoje, ao escrever no meu plano de aula da sexta série: Contrarreforma. Minha nossa! Contrarreforma é de doer. Outra coisa que ainda tá doendo é autorretrato. E o Word não tem atualização, e nem tá com muita pressa, pelo o que andei lendo. Nós professores podíamos ao menos receber uma capacitação gratuíta né?

Quase 29 anos, quase quase mesmo. Quantas coisas ainda vão mudar desse jeito? E nem comentei da fotografia, heim?

4 comentários:

Edu Guimarães disse...

Somos testemunhas de um período de grande transição (oooooohhhhhh ). Também me correspondia, também comprei Lp novo, lacrado, também comprei CD sem ter o aparelho... Sim, estamos ficando velhos!

:-*

Unknown disse...

ah, esse pessoal 1980... digo-te, não vejo tantos problemas na reforma ortográfica, mas sinto saudades de me comunicar por carta.

Mila disse...

Menina, eu nem tenho quase 29 (Retorno de Saturno, vc sabe? Coisas astrológicas. rs) mas já acho mto estranho olhar pra minha infância e lembrar como era "coisa de rico" ter linha residencial. E como a gente sempre ouvia falar que "fulano tá tão sem dinheiro que tá até vendendo a linha telefônica dele. Sabe de alguém que quer comprar?". E elas eram caaaras.
E LPs! Tinha um monte em casa! Aliás, ainda tenho. rs
Tanto os da Xuxa de 20 anos atrás, quanto um da Legião que eu comprei há pouco tempo num sebo, mesmo sem ter toca-discos. rs
Agora, sobre a reforma, imagina minha situação e o sentimento de "não valho mais nada" depois de 4 anos num curso de Letras. Me recuso a adaptar minhas palavras! Agora sou rebelde! rs

Bjs

disse...

Ei, eu ainda escrevo cartas. Sério mesmo! E o melhor: quem as recebe me responde! Não é o máximo?! :)