9.5.09

Trilha sonora da vida

Engraçado, mas sempre me vejo como o Kevin Arnold, do seriado Anos Incríveis... tudo o que ele vivia tinha a trilha certa, e era escolhida a dedo, sempre traduzia o que tava realmente acontecendo. A minha vida também tem trilha sonora.

Como pensei nisso, por que pensei nisso? Fiquei uma semana sem meu aparelho de som e quase surtei. Mas ele voltou, e hoje numa rádio tocou uma música que me fez lembrar um dia especial, alegre demais: a primeira vez que pude ir pra domingueira, cheguei lá e tava tocando This is not America, do Bowie. Até hoje escuto a música e me vem aquela sensação boa, como se pudesse de novo sentir pela primeira vez aquele cheiro de gelo seco misturado com o cheiro do Halls que o povo adorava naquela época. Aí automaticamente vem uma lista de outras músicas e dias marcantes.

My Sweet Lord, Beatles, descendo a Dr Arnaldo, guia na mão, tentando chegar na Pompéia, no festival. Lá, eu assistiria pela primeira vez Walter Franco. I Wanna Be Your Dog, Stooges, pela primeira vez no Madame Satã. Hells Bells, AC/DC, indo pro show dos próprios, primeiro show da minha vida, por muito tempo meu apelido foi esse. Dente de Ouro, Blues Etílicos, muita cerveja e sinuca no bar perto da escola. Perto do Fogo, Rita Lee, sempre alguém insistia em cantar essa música maldita quando me via. Roots Bloody Roots, Sepultura, um show que foi tão louco que nem acredito que foi de graça, fiquei dias sem voz e com dor no corpo. Apesar de Você, Chico Buarque, muita cerveja na primeira faculdade. Welcome to the Jungle, Guns n’ Roses, primeiros cigarros perto da escola onde estudei até a 7ª série. Lithium, Nirvana, minhas várias camisas de flanela xadrez pularam muito junto comigo quando essa música tocava nos sons na casa da galera. War Pigs, Black Sabbath, manhãs de domingos na porta da igreja enquanto a missa rolava lá dentro. NIB, Back Sabbath também, um reveillon e um esmalte preto que um amigo nunca mais devolveu. Pobre Paulista, Ira!, show de graça com os meninos, povo que nunca mais vi. Wasted Years, Iron Maiden, várias tardes de sábado na Galeria do Rock com uma amiga querida. Fruto Proibido, Rita Lee, uma tarde de volta da Galeria, com o disco na mão. Gallows Pole, Page e Plant, noites no Lollapalooza. L.A.Woman, Doors, misturada com álcool, faz estrago. Enjoy the Silence, Depeche Mode, na balada cria coragem.

Mas nem tudo é perversidade na minha vida. Anuciação, Alceu Valença, domingos de manhã, arrumando as coisas pra ir pro clube com meus pais. The Prophet’s Song, Queen, feriados passados conhecendo rock na casa dos avós. Êxtase, Guilherme Arantes, eu criança, ouvindo o rádio da minha mãe enquanto ela costurava o dia todo. Crocodile Rock, Elton John, casamento do meu tio, ele se arrumando pra ir pra igreja. Tiro ao Álvaro, Demônios da Garoa, vô Antonio dedilhando um violão. Go back, Titãs, uma prima mais velha tinha o disco. São Francisco, Ney Matogrosso na Arca de Noé, bicho-grilismo infantil patrocinado pelos pais. Astronauta, Replicantes, descobrindo o punk. Voltei pra perversidade...

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