Tarde quente. Ela ainda era professora substituta, ou eventual, como dizem por aqui. Por isso mesmo, conhecia todos os alunos melhor do que muitas professoras titulares de cargo. Chegava a entrar 6, 7 vezes por semana em cada sala de aula, quando as outras entravam no máximo 5 vezes. Conhecia todos por nome, sabia onde a maioria morava. E por isso resolvia a maior parte dos problemas de indisciplina da escola.
Como disse, a tarde seguia quente. Com calor, os alunos se exaltam. Um se exaltou mais, foi necessário chamar a mãe,que apareceu quase na mesma hora. O diálogo que se seguiu foi mais ou menos assim:
- Mãe, o fulano fez isso, isso e isso. Ele não pode continuar agindo dessa forma. Quantas vezes a senhora já veio aqui só esse ano por conta do comportamento do fulano? (tinha aprendido a chamar o aluno pelo nome, não como 'seu filho')
- É, professora... eu não sei mais o que fazer com o meu filho não.
- Mãe, o fulano tem só 12 anos! Geralmente os problemas estão apenas começando nessa idade, mas a senhora, como mãe, tem que impor limites, ele precisa disso.
- Olha, professora, eu entreguei nas mãos de Deus. Não sei mais o que fazer, agora Deus é que vai cuidar e guiar o caminho do meu filho.
Nesse momento a professora respirou fundo. Outra vez.
_ Na mão de Deus então? É isso? Tudo bem, pode deixar.
- Posso ir embora, professora?
- Pode sim. E leve seu filho, que hoje nem Deus guiou o caminho dele.
Seguiram-se dias, semanas. A conversa foi ouvida pelas colegas, e cada vez que o garoto aprontava, a primeira coisa que falavam era: reze, em voz alta pra ver se resolve, afinal, é com Ele agora. Outras diziam pra fazer a tal da DDI, que o Raul falava. A partir daquele dia, a professora começou a entender que haja o que houver, resolva com o aluno, é quase sempre melhor. Evita maiores decepções.
20.9.08
Segura na mão de Deus
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dias difíceis
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2 comentários:
é, a gente sempre aprende isso em algum momento.
Teve uma vez que uma tia invadiu minha sala e deu uma surra no sobrinho lá mesmo.
É medo e frustração de lá e de cá. E nós, professores acabamos sendo mais responsáveis do que poderíamos ser.
Beijos
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