28.9.09

Dos interesses

Era uma vez uma menina que não via maldade em ninguém. Nos tempos mais remotos já ajudava os colegas da sala de aula com os deveres, trabalhos e contas. O tempo passou e ela sempre acumulou elogios à sua prestatividade, sua prontidão. Era capaz de ouvir durante horas uma amiga chorando, perder um domingo de sol pra ajudar nos deveres da escola, acordar cedo num sábado só pra acompanhar alguém numa missão.

O tempo passou mais um pouco e chegou a maturidade. Um dia percebeu que seus problemas, quase todos, sempre ficaram em segundo plano. Um dia ouviu falar que qualquer relacionamento só acontece na base da troca e a partir daí começou a analisar tudo o que recebeu e tudo o que compartilhou. Percebeu que as maiores frustrações ao longo da vida, até então, foram decorrentes de falta de atenção, pouco caso, falta de compromisso das pessoas que ela considerava mais próximas.

Notou que o problema dos outros sempre foi maior, os dela sempre foram quase nada, segundo plano. Notou o número de telefonemas e recados recebidos com os dizeres 'preciso de um favor seu', comparou esse número com o tanto de vezes que pediu algo pra alguém e foi atendida.

Percebeu ainda o quão disponível sempre se colocou a todos que precisassem, e comparou com o tanto de disponibilidade que sempre encontrou ao seu redor. Percebeu ainda o quão traída nessa disponibilidade ela já foi. Quantas vezes deixada pra trás, falando sozinha, pedindo pra ajudar.

Naquele dia percebeu que teve pouquíssimos amigos durante a vida. Boa parte desses amigos, alguns ainda presentes, sempre estiveram interessados na ajuda, na disponibilidade. Quando ela não existe, desaparecem. Naquele dia ela desejou como nunca o egoísmo. O desejo passou rápido, ela nunca foi egoísta e ao menos disso pode se orgulhar.

Os amigos? Passou a analisar antes o que cada um quer dela. Deseja apenas os que a procurem por nada, de graça, assim como ela procura as pessoas. Tornou-se uma pessoa mais sozinha, mas ainda insiste em acreditar nas pessoas. De graça.

3 comentários:

disse...

Se esse texto fosse meu, seria uma autobiografia. Mas, de qualquer modo, parece um texto autobiográfico. Espero que seja. Acho que pessoas assim são mais felizes. Têm bons sentimentos. :)

_Ton_ disse...

Parabéns...
Pelo texto e pela iniciativa. Eu creio q não existe amizade (ou amor)incondicional. O sentimento deve ser uma via de mão dupla, o famoso "dar e receber". Quando se pesa na balança e vê o quanto de si você doou e o quanto teve em troca, muitas amizades ilusórias desmoronam.

Alessandra disse...

Mais feliz é quem acredita, acredito eu, pois não perde tempo em "pré-pensar" no que uma pessoa poderia ou não fazer de mal.