22.11.10

O show da minha vida

Eu tenho 30 anos, sou de 1980. Quando nasci Beatles já não existia mais e Lennon seria assassinado no mesmo ano, 9 meses depois do meu nascimento. 21 anos depois foi a vez de George Harrison partir. Em 1993, quando Paul McCartney esteve no Brasil eu tinha 13 anos e ainda ouvia Beatles brincando de bonecas, acreditem. Passei todos esses anos acreditando que esse era um show que eu teria que me conformar de morrer sem ver, era um fato consumado, sem dúvida.

Mas um dia acordei com a notícia de que estavam confirmadas as datas da apresentação da nova turnê do Paul, e logo sairam as datas de venda de ingressos. Foi tudo tão rápido que foi difícil acreditar no momento em que apareceu a mensagem na tela do computador dizendo que a compra havia sido finalizada. Inacreditavel também quando chegou o ingresso e a rapidez com que chegou o tão esperado dia. Tudo o que eu acreditava ser impossível, aconteceu e muito rápido.

A ficha caiu durante as duas horas de fila na frente do Estádio do Morumbi. Milhares de pessoas uniformizadas esperando anos e anos por aquele dia. A emoção aumentou quando entrei no Estádio e, embora não tenha sido tão rápido assim, parece que em um piscar de olhos as luzes se apagaram e o homem entrou no palco. Venus and Mars, Rock Show e a minha primeira explosão em Jet. A emoção apertou mais em Drive My Car, coração batendo descompassado.

My Love, dedicada a todos os casais, me fez sentir mais falta do namorado companheiro de tantos shows. Blackbird é covardia, os olhos lacrimejam assim como em Something, na minha opinião, a mais bela música de amor de todos os tempos. Falta do namorado de novo. Animadíssimas, Dance Tonight eMrs. Vandebilt, trabalho solo que nem curto tanto assim, boa mesmo e Band on the Rum e Let'em In, que eu nem esperava ouvir. Ob-La-Di, Ob-La-Da e Back in the U.S.S.R, momentos de alegria, gritaria, saltitante. I've Got a Feeling e Paperback Writer preparam o terreno pra lindíssima e emocionante A Day in the Life com Give Peace a Chance. Aí as lágrimas que só molhavam os olhos e se continham molharam meu rosto, mesmo com um sorriso imenso estampado. Let it Be por pouco não aumenta as lágrimas secadas após o espetáculo dos balões brancos que cobriam o público em Give Peace a Chance. Live and Let Die, fogos, mais emoção e Hey Jude, lindíssima com o povo cobrindo a voz do Paul, que deixa o palco aos nossos gritos de naaaa, na na na na na naaa, Hey Jude...

Antes de pararmos totalmente de cantar, Paul volta e toca Day Tripper, Lady Madonna e Get Back, cantada aos gritos por todos como se não precisássemos das nossas cordas vocais nunca mais. Mais uma saída e antes que desse tempo de tomar um copo de água ele volta de novo pro derradeiro bis da noite. Ao violão, sozinho no palco, Yesterday. As cordas vocais foram maltratadas outra vez em Helter Skelter e os pés já cansados foram judiados mais um pouco também, impossível não pular. O fim foi anunciado em Sgt Pepper's Lonely Hearts Club Band, 'we´re sorry but it´s time to go'. Ao final, a música com a frase mais linda que já ouvi, a maior lição de todas, The End: 'and in the end, the love you take is equal to the love you make'.A lágrimas molharam o rosto que agora eu já notava que estava dolorido e talvez com mais rugas por conta do sorriso que não me abandonou por quase 3 horas. Agora as lágrimas eram quase de tristeza, por tudo aquilo que tinha acabado de ver, inacreditavelmente. Nos olhávamos, eu e minha cunhada, companheira dessa aventura, e falávamos "eu não acredito no que vi". Eu ainda não acredito no que vi.
 
Poucos dias da minha vida eu gostaria de nunca esquecer. Esse com certeza é um deles, certamente um dos mais felizes até aqui.

20.11.10

Skank e as bandas nacionais

Eu devo ter nascido ouvindo rádio, então acho que tenho alguma autoridade pra escrever minhas opiniões sobre música. Hoje fui ao show do Skank no Citibank Hall, em São Paulo, e o que vi me fez pensar muito em tudo o que eu ouvi e ainda ouço.

Todas as bandas de pop-rock nacional que eu passei minha vida até aqui ouvindo praticamente acabaram. Ou então, o fim teria sido o que e melhor poderia ter acontecido. Exemplos claros são o Titãs (Quem é o Titãs hoje? O Branco Mello?) ou o Capital Inicial. Outras bandas chegaram num ponto bacana e pararam, por exemplo, Paralamas do Sucesso. Não me queixo do Paralamas, veja bem, mas pra falar a verdade, nem sei se eles não decaíram depois dos discos que eu mais gosto, do final da década de 90. Outras ainda já nem eram grande coisa, e continuam sendo quase nada, Ultraje a Rigor, Inocentes, Plebe Rude, etc. O fato é que a maioria delas, de uma forma ou outra, não sobreviveram ao ano 2000, perderam algo ou tudo.

Mas a história não é igual pro Skank. Com uma aparição um pouco mais tardia do que as bandas que já citei, eu lembro até hoje do primeiro clip que rolava na MTV, lá pra 1993. Não que eu gostasse. Mas o fato é que os caras eram estranhos, tocavam um som mais estranho ainda e não me agradava. Aí lançaram outro clip. E outro, e outro. A cada disco era inevitável notar que os caras cresciam, não necessariamente que me agradasse. Relutei contra o pop do Skank até o dia em que lançaram o Cosmotron, em 2003. Tinha que admitir, a banda aprendeu a fazer o que eu queria ouvir. E vieram as parcerias com o pessoal do Clube da Esquina, letras maravilhosas, melodias simples e sensíveis. Sim, uma banda de pop-rock, simplesmente, mais pop do que rock, mas é boa e só melhorou ao longo dos anos.

Hoje no show que durou quase duas horas vi minha adolescencia passar na minha frente. Músicas que por puro preconceito eu negava que ouvia, ou que gostava, afinal, eu era do rock. Foda-se. O pop tá aí pra ser ouvido. Músicas que tocaram tanto que não me permitia uma avaliação na época hoje me soam muito bacanas, como Pacato Cidadão, Tão Seu, Saideira, Te Ver, Jack Tequila. Outras, lindas, me emocionam, como Balada do Amor Inabalável, Resposta, Sutilmente, Ainda Gosto Dela. Outras animadíssimas, dignas daquelas festas loucas de final de ano, Três Lados, Vou Deixar, Garota Nacional, É Uma Partida de Futebol.

Sim, Skank cresceu. E hoje eu também cresci e admito, gosto sim do Skank. Se tiver oportunidade de ver de novo, não pensarei duas vezes. Já pra ver outras bandas nacionais, depende muito. Mesmo as que eu sempre, desde o início, gostei.