17.2.10

O ano nem começou direito...

... e eu já tô irritada com a maravilhosa organização da minha escola. Da minha escola não, claro, da Secretaria da Educação de SP.

Os alunos entram em sala amanhã. Os cadernos do aluno, a tal apostila que o Estado manda pra eles, já chegaram. Mas eu não vi nem a cor de nenhum. Que ótimo, é lindo falar na televisão que o material do aluno já chegou, que tá investindo trocentos mil reais nisso e blá blá blá. O que ninguém sabe é quando os professores, os mesmos que terão que trabalhar com tais materiais, terão acesso ao mesmo.

Ok, primeiros dias de aula é melhor trabalhar de outra forma. Quem sabe um texto sobre meio ambiente, sociedade, relacionamentos, etc.? Só se for passado na lousa ou ditado, afinal, não se tem onde tirar cópias na escola. Durante todos os anos que tenho de magistério sempre coloquei dinheiro do meu bolso pra fazer cópias de atividades, textos, provas. Mas chega uma hora que só o valor que eu gasto é que aumenta, meu salário não. Logo, só idiota pra continuar gastando seu dinheiro no que nem o Estado gasta, real melhoria dos métodos de ensino.

E o ano tá só começando...

9.2.10

Adolescência

O calor estava infernal. Janeiro. Ela na cama, lendo uma revista, ele no computador, a mãe dele na sala, assistindo qualquer coisa na programação dominical, é tudo igual mesmo.

Não bastando o calor que fazia, ainda tinha aquele calor próprio dos namorados quando impedidos de ficarem como desejam. Abraçaram-se, beijaram-se e o clima esquentou mais alguns graus. A porta do quarto aberta, seria muita bandeira fechar, na TV alguém voltando pra terra natal. A cada segundo a temperatura aumentava, e a cada suspiro vindo de fora do quarto se largava, se recompunham, e logo depois recomeçavam. Até o suor que escorria da pele fazia barulho.

Como em todos os dias quentes, a tempestade se anunciou com ventos fortes, refrescando um pouco o ambiente. Logo nas primeiras rajadas de vento, puff! Cai a rede elétrica, em casa volta logo e com ela alguém ensinando a adestrar um cão, escuridão total na rua.

Ela decide ir embora, passa pela sala, despede-se. Ele vai atrás, bate a mão no interruptor da luz da garagem, fingindo acender a luz. Na garagem, breu total. A tempestade alivia o calor, mas não os ânimos. Tal como acontece no clima, outra tempestade anuncia-se, tendo o beijo como os primeiros raios e trovões. Ninguém na rua, nem próximo de onde estavam, na garagem. Entre os corpos o que ocorre é uma tempestade tal qual a que vem do céu, vem violenta e rápida como as chuvas de verão, rápido só para aliviar a sede da terra e clarear o céu, rápido pra não dar tempo pra ninguém perceber, rápido só pra refrescar.

Ainda durante o último beijo, aquele já mais calmo, os dois se recompõem. Não chove mais, o céu já tem estrelas. Foi embora se sentindo uma menina fugindo dos pais, fazendo tudo o que não se pode fazer, tudo escondido. Aos quase trinta, é bom se sentir uma adolescente. Com a vantagem de ter um carro, claro.

4.2.10

Dias de fúria

Pra ler ouvindo Pé na Porta, Soco na Cara, do Matanza.

Foi difícil, mas acho que entendi que os meios de comunicação mais atuais do que o telefone, como orkut, twitter, blog e msn são tão práticos quanto o precursor. Prá quê tanta gentileza afinal? Não quer falar com alguém, simplesmente desligue na cara, ou melhor, tire do gancho.

Já tentei ser educada, gentil. Sempre detestei insistência, e hoje temos por toda a internet um bando de loucos que vivem mendigando contatinhos, depoimentinhos, fotinhos, etc. Quando é desconhecido é simples, clico no ignorar, bloquear, negar, e por aí vai. Problema é quando a insistência vem de alguém conhecido, não amigo, claro.

Decidi que foda-se o que os outros pensam e quantas vezes vão se revoltar pela minha falta de civilidade, companheirismo, delicadeza, amizade. Amizade? Será que amizade não é algo recíproco? Deveria ser pelo menos. Se eu não tenho interesse numa amizade, não rola, sorry. Egoísmo? Sim, talvez. Mas realmente, amizade que não acrescenta nada, e se perigar, subtrai, não é amizade, é muleta. Por isso acho que hoje a palavra amizade anda subvalorizada, acham que amizade é uma obrigação. Acredite, tem gente que acha que temos obrigação de sermos seus amigos. E que fique bem claro o tipo de interesse ao qual me refiro, ok? Não falo em vantagens, falo em experiências a serem trocadas, emoções, conversas, risos, segredos. Isso tudo, a afinidade, faz de alguém interessante ou não, na falta dela.

Esses dias fiz uma limpeza nos meus contatos e e-mails. Quem importa ficou, quem não importa, sorry, mas não acho necessário ficar fazendo política de boa vizinhança a troco de nada, ou pior, tendo prejuízos ridículos. Aos quase 30, é isso que decido e acho que tenho esse direito. Egoísmo, sim. Mas piedade e pseudo amizade não sustenta nem acrescenta. Como disse, periga sair no prejuízo.

Ou fazia isso, ou cometia um suicídio virtual.

Filmes

A Festa da Menina Morta

É o primeiro filme dirigido por Matheus Nachtergaele, e diria eu que é um filme diferente de tudo o que eu já vi. Não é nada inovador como o cinema novo, por exemplo, mas causa um certo estranhamento.

A história se passa numa comunidade ribeirinha do Amazonas, e gira em torno da tal festa da menina morta. A menina desapareceu há 20 anos e, na época, um cão entregou os restos do vestido da menina a outro menino, que ficou conhecido como Santinho e passou a 'fazer milagres' e benzer o povo da comunidade. Santinho é interpretado por Daniel de Oliveira, na minha opinião, um dos melhores do cinema nacional atualmente. Santinho é um jovem destemperado, egoísta e mal educado, porém, reverenciado por toda a comunidade. Todos os preparativos para a festa acontecem mesmo sendo contra a vontade do irmão da menina, que não acredita na santidade do rapaz.

Se eu tivesse que descrever o filme com um adjetivo só, utilizaria 'amargo'. É um filme amargo, me faz falta alguma delicadeza, não sei dizer ao certo o que falta. Com certeza não falta uma ótima direção, uma ótima interpretação dos atores, nem a maravilhosa fotografia, mas é um filme pesado sim. O momento de maior delicadeza, na minha opinião, é uma cena de incesto gay, aparentemente, o único momento de satisfação, de alegria do Santinho.

Recomendo, não deve ser passado em branco, mas prepare-se, não é um filme fácil.